Trabalho voluntário beneficia cerca de 40 pessoas em Muriaé
Para amenizar a dura realidade dos moradores de rua de Muriaé, o vendedor Edmilson Fernandes da Silva, 25 anos, criou em 2005 o “Sopão”. Iniciativa que distribui refeições gratuitas todas as noites de quinta-feira. “Começamos transportando a sopa em veículo próprio, com a ajuda de amigos e colegas, logo depois recebemos o apoio da Igreja da Barra, da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP) e de várias pessoas que colaboravam anonimamente”.
A idéia surgiu em 2004. Na volta do Nordeste, passando por São Paulo, Edmilson Fernandes conheceu um projeto semelhante em uma comunidade da metrópole. A atitude das pessoas o tocou de maneira tão profunda que ele sentiu necessidade de fazer algo.
Hoje, o projeto conta com a participação de sete voluntários. Além deles, dois vicentinos se revezam a cada semana. Adilson Schitini Leite, 61 anos, é o responsável pela visita e convocação destes vicentinos em suas comunidades. “As conferências da SSVP são a sustentação de uma das partes; a outra parte, a Pastoral de Rua, são os voluntários que trabalham fazendo o ‘Sopão’ e buscando as doações”.
Os mantimentos utilizados no “Sopão” são arrecadados da seguinte maneira:
não perecíveis – por meio de campanhas realizadas pela Paróquia da Barra. Todo 4º domingo do mês, ao final de cada missa, arrecada-se quilos e mais quilos de macarrão, canjiquinha, fubá e temperos;
perecíveis – como carnes e legumes, são recolhidos nos mercados, frigoríficos, açougues e hortifrutis pelos voluntários, no mesmo dia do preparo da sopa.
“No inicio não tínhamos a estrutura necessária, hoje com muita perseverança e fé em Deus montamos uma estrutura boa, mas sempre é bom reforçar os pedidos de doação”, destaca Edmilson.
O “Sopão” beneficia cerca de 20 a 40 pessoas por semana. Além da comida, são doadas roupas, agasalhos e cobertores. Segundo Adilson Schitini, o número de pessoas beneficiadas varia muito, ele cita dois exemplos: “Podemos, por exemplo, chegar no Posto Bela Vista e encontrar uma família de migrantes (andarilhos) com 15 pessoas; Já no dia que tem festa na cidade diminui o número dessas pessoas nas ruas, elas vão para o local da festa, porque lá vão conseguir algum trocado, obter alguma vantagem”.
Para os interessados em participar ou colaborar com doações, os encontros acontecem todas as quintas-feiras a partir das 15 horas na Casa da Menina, ao lado da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição no bairro da Barra. Podem ainda procurar a Secretaria da Paróquia e/ou a Sociedade São Vicente de Paulo (a conferência mais próxima de sua casa).
Acompanhe o passo-a-passo do "Sopão"
Toda quinta-feira, a partir das 15 horas, na Casa da Menina, ao lado da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição na Barra, um grupo de pessoas se reúne, voluntária e anonimamente, para dar início à preparação da sopa que será distribuída mais tarde. O cardápio varia entre sopa de macarrão com legumes e canjiquinha com carne. Além disso, serve-se cafezinho e água gelada.
Todos os ingredientes utilizados no “Sopão” são doados pela comunidade
Na espaçosa cozinha, cedida pela Casa da Menina, trabalho é o que não falta. Em uma mesa grande, Fernando Reis dos Santos, 59 anos, corta diversas garrafas PET que servirão de pratos e enrola com guardanapos colher por colher. Além disso, deposita em cada garrafa de água, uma dose de água benta. Na pia, que ocupa um lado de uma parede da cozinha, duas mulheres descascam e picam os legumes, limpam e temperam a carne. Enquanto isso, Maria José Rosa, 60 anos, assume o fogão. O alimento é preparado com carinho e atenção. Para Maria Aparecida da Silva, 60 anos, é uma satisfação participar do projeto, “gosto muito de ajudar as pessoas”. E ela ainda faz um alerta, “hoje estou ajudando, no dia de amanhã, quem sabe, vou precisar de ajuda”.
Cada garrafa de água recebe uma dose de água benta
Por volta das 21h, o alimento que vai saciar a fome de andarilhos e moradores de rua e as roupas, agasalhos e cobertores que irão aquecê-los, já estão prontos. A kombi, cedida pela Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), que levará o alimento e as roupas, acaba de chegar. O motorista, Antônio Teodoro, tem como função conduzir o veiculo com o máximo cuidado possível para que as sopas não derramem. Na parte de trás do carro estão dois vicentinos da Conferência de São Marcos (bairro Dornelas) e seu Fernando; ao lado do motorista, está Edmilson Fernandes, criador do “Sopão”. Assim que seu Antônio dá a partida, a reza do terço é iniciada. Quem puxa a oração é Edmilson.
Além do alimento ganham roupas, calçados e cobertores
A cidade é percorrida de um canto a outro e, durante esse caminho, são encontrados diversos tipos de pessoas. “Percorremos o Centro, as principais avenidas da cidade e os bairros centrais, além de vários trechos das BR’s que cortam Muriaé, onde se encontram o maior número de andarilhos e moradores de rua”, destaca Edmilson. Adilson Schitini, um dos voluntários, conta que já se deparou com várias situações, desde andarilhos, famílias de migrantes e mendigos, até gays e prostitutas. “Quando percorremos o Centro da cidade e notamos o individuo deitado na calçada, nós o abordamos da maneira mais educada possível, explicamo-lhes o nosso trabalho e oferecemos a sopa. Esperamos até que ele sacie sua fome, servimos o café e a água, que fazemos questão de ser benta e, por fim, perguntamos se ele deseja escutar uma palavra de conforto e de fé. Se sentirmos alguma má vontade, nós o deixamos quieto, pois o nosso papel naquela noite é levar o alimento e não convertê-lo a nada. Da mesma forma acontece quando percorremos as estradas”.
Cerca de 40 pessoas são beneficiadas pela iniciativa
As noites de quinta-feira só terminam para estes voluntários às 3h da madrugada. Quando sobra sopa, ela não é desperdiçada. O alimento que não foi entregue naquele dia é levado e distribuído no Lar Ozanam (instituição que abriga idosos de Muriaé e região e que também recebe o apoio da Sociedade São Vicente de Paulo).
Juliano Moreira
Colaboradores:
Janiele de Souza Freitas
Rodrigo Borges Perigolo
Conheça os Voluntários do “Sopão”